quinta-feira, 5 de junho de 2008

As Rosas - Capítulo 3: Círculo

Outono, 1975
Doutor Felipe está feliz, hoje ele dará uma grande festa em sua casa. Mais uma das festas que ele e a mulher, Claudia, sempre oferecem à alta-sociedade da pequena cidade de Guaratinguetá. Hoje será diferente porque o doutor Jonatan irá.
Felipe está eufório, recorrendo à ajuda do seu remédio privado de meia em meia hora. Claudia sabe do vício do marido, mas tem medo de que repreendê-lo possa causar mais uma das discussões que se tornam mais frequentes a cada respiro.
Claudia também conhece Jonatan, sabe que ele e o marido são amigos de longa data, se conheceram durante a faculdade, só que enquanto Felipe ficou em Guaratinguetá e prosperou, Jonatan se mudou para Londres e há pouco retornou, num estado um pouco acima da miséria.
A relação entre Claudia e Felipe começou a se ficar mais tensa quando ele soube do regresso de Jonatan, o vício pareceu ficar mais forte e as idas à bares e bordéis mais frequentes. Ela sabe de tudo isso, mas prefere ficar calada, afinal Laura tem apenas 7 anos e ela não conseguiria ficar sem a filha.
O relógio da sala principal informa que já são quase 22 horas, os convidados começam a chegar e de repente, a vida de Claudia e Felipe parece se transformar, eles são de novo um casal feliz com uma linda herdeira.
Tudo está tão perfeito quanto um sonho.
Então Jonatan irrompe pela porta principal. Vestido em seu melhor terno, Claudia o acha muito atraente, e se sente culpada por ter esse tipo de sentimento pelo melhor amigo de seu marido.
A festa segue e tudo está em seu devido lugar.
E tudo desmorona quando o último casal vai embora.
Claudia sente tudo mudando.
Ela vê algo no olhar de Felipe, algo que nunca vira antes. Um misto de desejo, culpa, pressa e maldade.
- Durma essa noite com as empregadas, Claudia.
- Felipe, você não tem esse direito.
- Eu não pedi.
Um sentimento novo invade Claudia, o desespero. Como Felipe pode tratá-la dessa forma? E por que Jonatan ainda não partiu?
- Felipe - Claudia começa a chorar.
- Mande uma empregada arrumar o quarto de hóspedes para Jonatan e durma aqui embaixo.
Ela sai da sala chorando. E faz como o anfitrião pediu.
Na sala, Felipe e Jonatan conversam, enquanto bebem e, ocasionalmente, cheiram.
- Jonatan, por que foi para Londres?
- Tudo aqui no Brasil estava tedioso, precisava esperimentar a vida fora daqui.
- E imagino que perdeu todo seu dinheiro vagando de pubs à bordéis.
- Certamente.
Na mente de Felipe, imagens da época da faculdade. Imagens.
- Lembra-se de quando estudávamos, Jonatan?
- Claro, meus melhores anos.
- Quantas aventuras, quantos ideais perdidos.
- Mas ainda tens uma bela casa, uma esposa dedicada e uma criança que ainda não conheci.
- Minha casa realmente é uma boa casa, mas Claudia... Bem, estamos juntos, mas confesso que unicamente por dó. Ela reclama de tudo que faço, tenho escapado através da cocaína e dos bordéis baratos daqui.
- Lembra-se dos bosques?
Dizendo isso, Jonatan se levanta e sobe as escadas. Felipe vai atrás.
É claro que Felipe se lembra dos bosques. Eram recém-adúltos descobrindo os prazeres da carne. Mas qual é o motivo para repetir isso?
No quarto, Felipe e Jonatan se beijam. E é como se todas as lembranças, sonhos e ideais perdidos voltassem. Mas dessa vez é mais forte. Os beijos de Jonatan, uma língua tocando na outra, a barba por fazer raspando seu queixo e o corpo forte e quente pressionando o seu. Felipe o joga na cama e sua mão começa a percorrer o corpo de Jonatan. Sentindo cada pedaço do seu corpo. Aos poucos as roupas começam a aparecer embaixo da cama.
Agora, a língua de Jonatan percorre o corpo nú de Felipe. E ambos estremessem de prazer como se fossem um só. E é isso que eles se tornaram por um momento que pareceria a eternidade. Felipe sentiu o membro enrijecido de Jonatan entrando nele, uma sensação de muita dor percorreu seu corpo, mas a respiração de Jonatan e o corpo dele encostado no seu fez a dor se transformar numa sensação de puro prazer. Puro prazer emocional e fisíco que nem uma enorme carreira de cocaína seria capaz de proporcionar.
Enquanto Jonatan e Felipe sentiam suas respirações como se fossem um único ser, Laura olhava. Ela, na sua idade, não saberia descrever quais foram as sensações que passaram por seu corpo. Medo, tristeza, perplexidade, curiosidade e algo mais fundo, algo (prazer?) que ela nunca conseguiu definir.
Laura voltou para cama depois de ter ficado parada olhando durante um tempo que nunca soube ou quis admitir.
Enquanto isso, no quarto vizinho ao da pequena princesa, o ato tinha fim com o arfar quente da respiração de Jonatan se tornando mais forte no ouvido de Felipe. Tudo fora tão rápido e intenso.

Num quarto escondido perto do porão, Claudia chorava, como se soubesse o que estava acontecendo na cama que dividia com o, cada vez mais, ausente Felipe.

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