quinta-feira, 5 de junho de 2008

As Rosas - Capítulo 1: Amanhecer

Ela acordou e olhou pela janela, ainda estava escuro, porém no horizonte, as primeiras luzes da manhã esboçavam um novo dia. Levantou, ainda nua, e olhou para o corpo adormecido ao seu lado. Caminhando lentamente para a janela, acendeu o último cigarro de seu maço e encostou-se, observando a cidade que ainda dormia aos seus pés. De frente, ao longe, estava a catedral. À sua esquerda via os carros caminhando infinitamente de lugar nenhum para lugar nenhum.
O homem que ainda dormia era Renato, Laura o conheceu através da internet. Um homem bem afeiçoado, que aparentava uns 25 anos, apesar de estar na casa dos 30.
Vendo-o ainda dormindo, Laura pensou:
"Ele deve me achar uma puta."
O novo dia começava lentamente, e com as luzes surgia a opressão que Laura sentia. Como poderia ter feito uma das melhores faculdades do país e acabar cuidando de seu pai inválido numa cidade de merda? Se tudo isso ainda não fosse o bastante, acabou transando com um caipira qualquer, que deveria achar que todas as mulheres que procuram um sexo casual fossem piranhas. Ele, provavelmente, nunca teria algo sério com ela.
"Foda-se ele", ela pensou.
O cigarro estava quase no fim quando ela o atirou pela janela. Depois disso, como toda transa casual com um desconhecido, tudo estava acabado. Foi ao banheiro e ligou o chuveiro. Iria tirar todo o cheiro barato daquele homem de seu corpo. Não que a noite não tenha sido boa, ao contrário, não foi sua melhor transa, mas ele a fez gozar três vezes. Laura era completamente feminista, um sentimento comum às mulheres da cidade.
Estava ainda no banho quando ouviu Renato acordar. Ele foi até o banheiro e ficou observando a bela mulher.
"Por favor Deus, sem replay." Laura desligou o chuveiro e pegou a toalha. Com um olhar de indiferença para Renato, dirigiu-se até o quarto. Pela luz da manhã, ela viu toda os detalhes do deprimente quarto de pensão que ele morava. Uma cama de casal, uma estante com uma televisão pequena e um aparelho de DVD. Pelo menos tudo era muito limpo e arrumado, mas isso só contribuia para tornar o quarto ainda mais vulgar.
Ela vestiu sua roupa e estava preparando para sair quando Renato surgiu apenas de toalha na porta.
- Já está de saída?
- Claro - Laura não queria prolongar a conversa com o, praticamente, "desconhecido" na sua frente.
O que não parava de ir e vir na mente de Laura naquele momento era a imagem do pai. Um ilustre advogado daquela cidadezinha, que agora mal saia da cama devido à um câncer pulmonar. Por que ela teria que cuidar dele, se financeiramente, ele poderia ter alguém muito melhor para ficar com ele até a morte que parecia se aproximar mais e mais, sussurando ao seu ouvido? Nem ela saberia o motivo pelo qual largou um futuro promissor em São Paulo para retornar à uma cidade que não existia nem mais em seus sonhos. O fato é que a mãe de Laura falecera há três anos, e desde então o doutor Felipe, seu pai, vivia sozinho. Até a descoberta do câncer.
Para sua sorte, Renato não quis prolongar a conversa. Se despediram como se fossem bom amigos, e Laura deu partida em seu carro.
Cada centímetro da cidade parece clamar pelo retorno de Laura, como ficou um bom tempo sem pensar sobre sua infância e adolescência, parecia que as memórias retornavam na velocidade da luz.
Parando na entrada da casa antiga que cresceu e agora, infelizmente, voltara a ser seu lar; Laura ficou a observar os detalhes, antes despercebidos. Aquela era uma bela casa. Reparou em tudo, no portão, na porta de entrada, nas sacadas. A luz do quarto de seu pai ainda estava apagada, e pelo seu relógio, o velho iria levantar em menos de meia hora.
"Por que os velhos acordam tão cedo?", Laura pensou, se dirigindo à porta.

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